sábado, 4 de abril de 2015

0

Resumão: Psicologia Comunitária

Postado em
Psicologia Comunitária – NP1

Histórico e fundamentos - Silvia Lane

-Década de 70: questionamento da Psicologia - atuação no Brasil. 

-1968: questionamento da prática do psicólogo. 

-Psicologia Comunitária: tem origem nos EUA – população carente e atuação de cunho assistencial e manipulativo. Este modelo não se encaixou no Brasil (a igreja católica teve grande participação para contrariar este modelo manipulativo).

-Década de 60/70: Paulo Freire – educação popular (alfabetização), Psicologia do Oprimido. Atuava com a população menos favorecida. Era contra a educação bancária (sem crítica ou reflexão sobre o assunto apresentado; as pessoas apenas aceitavam o que o professor falava: manipulação). Propunha uma educação libertadora através de reflexões. A alfabetização necessitava de um tema gerador (tema que a pessoa conhecesse / conhecimento prático -  experiências vividas), e a partir dele poderia gerar uma conscientização da realidade (conhecer a si mesmo e suas condições de vida). O professor deveria atuar como mediador/facilitador, não é detentor do conhecimento.

-1981: encontro: prevenção de saúde mental (postos de saúde, igrejas) e educação popular.

-Questionamento: o que é comunidade? Na época era apenas direcionado para a saúde. Comunidade são pessoas com algo em comum; união; território.

-1988: relato de experiências e trabalhos comunitários na zona rural. A Psicologia tinha como foco pessoas/grupos/sujeito (trabalho na comunidade feito em grupo: observação das relações sociais e regras de convivência). A saúde passou a ser vista como condição social, não apenas de sobrevivência (ampliação do papel do psicólogo, que sai do técnico “fazer por fazer” e passa para o “olhar para um indivíduo como um todo” - subjetividade).

Conclusões:
-Busca de uma sistematização teórica.
-O grupo como condição de trabalho.
-Busca pelo conhecimento da realidade.
-Autorreflexão e ação conjunta e organizada (unir conhecimento da Psicologia e da comunidade).
-Resgate da identidade e por si (reflexão, conscientização, subjetividade).
-Trabalho com linguagem e representações grupais.


-Psicologia comunitária: “estudar as condições (internas e externas) ao homem, que o impedem de ser sujeito e as condições que o fazem sujeito em uma comunidade”.

Relações comunitárias / relações de dominação - P. Guareschi


-Relação: interação entre um indivíduo e outro (uma coisa com outra coisa). Coisa que não pode ser ela mesma, se não houver outra. Nós só existimos na presença do outro. Exemplo: mãe só é mãe porque tem filho.

-A partir do outro significativo, estabelecemos uma relação.

-A relação também se dá nas situações de conflito. Exemplo: guerra depende do outro (rival).

-A exclusão só acontece por causa do outro.

-O estado deveria garantir o exercício dos direitos e deveres para haver cidadania. Entretanto, exclui alguns e privilegia outros.

-A relação com o outro passa pela relação de poder. 

-Nos vemos como uma pessoa em relação (perceber o outro em nós → os seres que, em si mesmos, implicam o outro)?

-Nos vemos como um indivíduo (você não tem nada a ver com os outros → eu me vejo e vejo os outros)?

-Relações sociais se dão a partir das pessoas que se constituem em grupo. A constituição de um grupo é a existência ou não de relações.

-Grupo tem algo em comum. 

-Existe a possibilidade de mudar um grupo (observar as relações entre as pessoas e transformar essas relações): trabalho do psicólogo.

-As pessoas do grupo também têm um conhecimento, não apenas o psicólogo. Todos devem falar e escutar. Com isso, o grupo se fortalece/modifica/pode estabelecer outras necessidades.

-O grupo tem uma relação relativa: está sempre em construção/transformação.

-Relação e relações: identificar o tipo de relação (do que se trata). Utilização de técnicas para conhecer essas relações: observação, escuta, entrevista, questionário, pesquisa. Com isso, será revelada a vida social dessas pessoas.

-Relações de poder (todos temos / conhecimento / capacidade de uma pessoa ou grupo de desempenhar uma ação qualquer) e de dominação (relação entre pessoas e grupos, onde uma das partes expropria/rouba o poder / relação assimétrica, desigual, injusta).

-Dominar o outro está relacionado com a questão da ideologia. Cria/sustenta relações injustas ou éticas (ideias para que algo não aconteça mais).

-Dominação pode ser econômica e cultural: dá sentidos.

-Relação comunitária de igualdade quando as pessoas "são" (ser). Deveriam ser permeadas de direitos.

-Numa comunidade, devem haver relações de saberes diferentes a serem respeitados.

Tensões na relação comunidade-profissional

-Propostas da autora: trabalhar com profissionais externos e a comunidade. Compreensão das possíveis tensões entre os processos de participação e conscientização dos trabalhos comunitários; Compreensão sobre o que acontece no dia-a-dia, sobre os significados que atribuem à vida que têm e sobre o tipo de relação que estabelecem com os demais, durante o processo de intervenção; Profissionais externos e o grupo autóctone dos moradores e/ou representantes e líderes comunitários.

-A avaliação das relações dos atores, para poder compreender em que medida os processos de suscetíveis de mudança a partir das interações estabelecidas e dos sentidos de comunidade que as pessoas vão construindo, criando, reiterando e fortalecendo;

-Ou, redefine, alteram, enfraquecem e negam como decorrência dos laços interpessoais que constroem e dos resultados que suas ações produzem, seja na perspectiva individual ou coletiva.

-Toda prática comunitária está relacionada a agentes comunitários e intervenções psicossociais.

-Os programas devem ser eficazes e efeitos produzidos junto às populações (a população deve reconhecer/viver os benefícios dos programas).

-É importante garantir que tenham a perspectiva da Psicologia Social Comunitária: as necessidades vividas e sentidas e os compromissos decorrentes disso; a adoção de estratégias de intervenção guiadas pelo foco da melhoria de vida das pessoas, tomando-as como referência para isso, e ações e intervenções comunitárias que tenham importância e sentido na vida das pessoas e da sua comunidade (as pessoas têm que se sentir responsáveis pelo local).

-Os profissionais devem ter compromisso e consciência da implicação social deles e dos projetos de intervenção.

-Os programas devem ter: (1) compromisso por parte dos profissionais e devem ser capacitados com qualidade também estar (2) implicados com a realidade social e com os problemas concretos da população, com a sociedade e com a profissão.

-Sua implantação, desenvolvimento e consolidação das práticas de intervenção psicossocial deve se considerar à própria dinâmica interna das práticas, como as relações estabelecidas entre os participantes e aqueles ligados aos objetivos para a realização dos trabalhos comunitários.

-Psicologia Social Comunitária: organizar a população em torno dos seus direitos básicos para construção de uma vida digna e justa (compreensão sobre o que acontece com as pessoas no dia-a-dia, significado que dão ao que acontece na vida, relação que estabelecem com os demais para que as práticas possam avançar em direção aos objetivos e compromissos).

-PSC: trabalha com a comunidade e com profissionais.

-Há aspectos intrínsecos nas relações.

-Potencializar a construção de redes mais solidárias e comunitárias de convivência.

-Identificar problemas dentro da equipe que interfere no andamento do trabalho.

Desafios:
-Impactos e importância que os trabalhados têm na vida de todos: ganhos e fracassos;

-Desafio ligado ao compromisso e aliança presentes na proposta de ação comunitária;

-Buscar uma delimitação ou posicionamento consensual – nas perspectivas individual e grupal;

-Tensões nas relações profissional – comunidade e repercussões na vida cotidiana.

-Práticas psicossociais passam por conscientização e participação. Processo de conscientização: como se constrói a consciência na vida cotidiana a partir das práticas de intervenção psicossocial e como pode ser apreendida;

-Projeto político: projeto de ação / criado junto à comunidade.

A entrevista psicológica - diário de campo



-Malinowiski: observação participante (descritiva, reflexiva).

-A partir da observação, teremos contato com a realidade.

-Entrevista é uma relação de empatia, que passa por um processo de comunicação (diálogo, fala, conteúdo) e observação do comportamento.

-Diário de campo é uma técnica utilizada nas pesquisas qualitativas (metodologia).

-Ao observar, temos uma consciência do outro e de nós mesmos.

-Diário de campo se materializa em anotações.



Entrevista
-Quem comanda a entrevista é o entrevistado.

-Tem um roteiro (perguntas abertas, fechadas ou semi-dirigidas).

-Fundamental obter confiança do entrevistado.

-Estabelecer um vínculo e se distanciar para observar (distância ótima).

-A coleta de dados vai da observação em si e da entrevista (dados novos).

-O psicólogo age como investigador profissional.

-Entrevista é um campo de ação/observação.

-Importante analisar a personalidade e o comportamento do entrevistado.

-Observar o enquadre (local e como ele está).

-Observar se na fala do sujeito existem lacunas, contradições, dissociações.

-Investigamos a conduta das pessoas.

-Transferência: por parte do entrevistado (processo de depositação de sentimentos). Contratransferência: por parte do entrevistador. Podem ser positivas ou negativas.

-Interpretação dos dados: identificar lacunas, unir à teoria, ter controle sobre a ansiedade (observar que ela estava presente).

-Importante estar atento aos próprios comportamentos. 

Psicologia da libertação

-Vários colaboradores, movimentos sociais nas comunidades deram origem a essa linha (não tem um autor específico).

Psicologia Comunitária - base: transformação social

-Trabalho com pessoas em situação de risco (grupos).

-1980: Goes (professor da UFC, fazia trabalho na comunidade). Aperfeiçoou conceitos da Psicologia, contribuiu para a Psicologia Comunitária.

-Utilizar a Psicologia para transformação social.

-Libertação do povo cearense - latino americano (oprimidos).

-Construção de sujeitos comunitários e autônomos.

-Sujeitos: considera a história.

-Libertação: promove autonomia através da conscientização.


Base teórica:

Psicologia da libertação - Martin Baro
Paulo Freire (pedagogia do oprimido; reflexão sobre a realidade de cada um; forma sujeito crítico, ativo.
-Psicologia da libertação: “que fazer” – atitudes que os profissionais devem tomar; refletir sobre suas ações.
-Propõe a emancipação dos indivíduos: para terem voz, serem sujeitos da história, autônomos. Trabalha a identidade do sujeito.

Educação libertadora - Paulo Freire

Histórico cultural - Vygotsky
-Materialismo-histórica-dialético.
-Entende o psi a partir da condição material de vida do sujeito.
-Desenvolve as funções psicológicas superiores, memória.
-Parte dos aspectos concretos para o psicológico.
-Formação da linguagem e do sujeito como mundo.

Teoria Rogeriana - Carl Roger (humanista)
-Potencialização do sujeito, terapia voltada para as necessidades do sujeito.
-Trabalho a partir da fala do sujeito. Centrada na pessoa.
-Trabalho com o aqui e o agora. Acolhe a pessoa. 
-A Psicologia Comunitária usa essa forma de trabalho com os grupos, trabalha a potência (através do diálogo).

Biodança - Rolando Toro
-Vivência - música.
-As pessoas dançam, têm o facilitador/mediador do processo.
-Música faz parte da formação do sujeito, trabalha a relação entre as pessoas, aflora sentimentos. Querem despertar esses aspectos. 

Ideologia da libertação
-Igreja atuando nas comunidades para elas e com elas. Para desenvolvimento, o sujeito crítico a partir da sua condição material de vida.
-Hoje na América-Latina perdeu força.

Fatalismo - Martin Baró (crítica)
-O povo latino-americano se submete ao destino, como se já fosse predeterminante, e não tem jeito de mudar. Crença no "ente divino" que influencia no que somos. É cultural e reforçado pelas religiões. Não consciência de si, mas de que a vida individual está nas mãos de Deus. Paralisação da vida por conta das crenças e valores.

Olhar do Martin Baró importante para a Psicologia Comunitária
-Reflexão sobre os assuntos da própria comunidade.
-Reflexão com o grupo, problematiza para haver conscientização.
-Não impões ideias, problematiza em grupo.

Sujeitos são alienados sobre sua condição de vida material, há a necessidade de se refletir sobre isso.


Bader Savaia - sofrimento ético-político
-Pessoas em processo de exclusão/inclusão.
-Sofrimento de origem social (é provocado).
-Questão moral e política, das relações entre as pessoas.
-Exemplo: pessoa não está na rua por culpa dela, tem questões sociais.

-Quem trabalha com o social, vê mais os aspectos materiais da pessoa. É importante ver os sentimentos e emoções das pessoas em situação de risco.

-Diálogo: intervenção.


Interdisciplinaridade
-Linhas teóricas diferentes, mas que possuem pontos importantes para o desenvolvimento da Psicologia Libertadora.


Paradigma: complexidade
-Não naturalizar ou conformar. Ver que é social, construído, não é imposto pelo divino. Tem interesses envolvidos, deve-se considerar as pessoas em si.


-Martin Baro foi assassinado.

-Banalização da vida. O psicólogo trabalha com a vida.

-Aproxima o conhecimento da Psicologia para essas comunidades, já que o estado é ausente. Utiliza essas bases teóricas para trabalhar com grupos.

Conscientização (ressignificar) – desideologização (tirar a ideologia presente)
-Possibilita que o indivíduo tenha escolha.
-O indivíduo aprende valores com: família (dependência), escola (passividade) e moral (hipocrisia) – necessidade de refletir sobre o que essas instituições impõem.


-Proposta de Martin Baro: busca da verdade para os grupos populacionais, nas práxis psicológicas.

-Para desenvolver o trabalho na comunidade, proposta de fortalecimento ou potencialização.

-Fortalecimento: indivíduo e grupos controlam sua situação de vida, a partir do desenvolvimento de capacidades e recursos. Usam crítica para alcançar a transformação. Desenvolver e potencializar capacidades; obter e administrar recursos para alcançar formas de desenvolvimento e transformação para bem estar pessoal e coletivo e superação das relações de opressão, submissão e exploração. 

-Desenvolver criticidade: reflexão sobre direitos. 

-Objetivos: superar condições de vida marcadas pela desigualdade (falta de acesso); indivíduos vivem situações negativas: adquirem controle sob o entorno no qual vivem e desenvolvem recursos para as transformações para obter bem-estar coletivo e pessoal em liberdade; desenvolver ações libertadoras; marca da Psicologia Social Latino-Americana: transformação (condição de vida das pessoas).

-Processos fortalecedores: caráter coletivo e libertador.

-Centraliza o controle e o poder na comunidade e em seus membros organizados. Os atores sociais são construtores de sua realidade e das mudanças que nela ocorrem.

-Uso dos conceitos da educação popular freireana: problematização, desideologização, conscientização. 

-Desenvolvimento ou aumento da capacidade e da atividade organizadoras; o desenvolvimento das formas participativas de ação, intervenção e pesquisa; incorporação e desenvolvimento do poder político, sentimento de eficácia política e de validade psicopolítica das comunidades e das pessoas interessadas em produzir mudanças dentro delas, com a finalidade de aumentar o grau de controle que exercem sobre suas vidas e seu ambiente. 

-Desenvolver o ser-em-relação com o mundo. Ruptura com a sensação e percepção de isolamento. 

-Compreensão crítica das forças sociais e políticas que atuam em nossa vida: avaliar causas, efeitos, razões e emoções. Compreensão crítica - conscientização e ação - reflexão e ação. 

-Questionamento: o processo de fortalecimento comunitário é sempre libertador?

-Existem agentes externos (os que chegam na comunidade) e internos (os que vivem na comunidade). O que é comunidade para cada um?

-Fortalecer para que temores ou incapacidades desapareçam;

-Sensibilizar para reconhecimento de certas atividades.

-Informação e ajuda técnica em um processo reflexivo ativo para sucesso das atividades.
-Controvérsias: intervenção tem diferentes conotações; Incompreensão dos AE na concepção de Comunidade; Sobreposição dos interesses individuais sobre os coletivos por parte dos AE; Problemas com os AI: rivalidades internas, hostilidade e manipulação – não são relatados por AE.

-Atenção à família.


-Influências alienantes de origem externa: interação entre comunidade e as instituições e o ambiente: ausência de retroalimentação.

0 comentários: